"Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar do calor."

Amyr Klink

terça-feira, 16 de outubro de 2012

CAMBARA DO SUL E AUSENTES, SETEMBRO DE 2012



  O destino escolhido para passar o feriadão de 20 de Setembro não poderia ter sido mais apropriado e a escolha mais feliz. Mais uma vez subimos à cidade de Cambará do Sul, com o plano de visitar os principais cânions da região, nos parques nacionais de Aparados da Serra e Serra Geral.

  Fomos presenteados com quatro dias simplesmente perfeitos, com sol, céu claro, poucas nuvens, nenhuma neblina, temperatura amena, com direito a friozinho à noite e muito vento no alto dos cânions, enfim....todos os ingredientes para visitas produtivas aos cânions, com direito a belas fotos e ótimas caminhadas.

  No nosso primeiro dia nos Campos de Cima da Serra rumamos diretamente ao PN de Aparados da Serra, para visitar o mais famoso e frequentado cânion da região, o Itaimbezinho.
O cânion do Itaimbezinho já foi motivo de post aqui no blog, quando da minha última visita à região, em Nov de 2011:


  Partindo do centro da cidade de Cambara, a entrada o PN de Aparados da Serra fica a 18 km percorridos em estrada de terra em boas condições, com algumas pedras e buracos maiores, mas nada que assuste. O acesso ao interior do parque é pago e custa R$ 6,00 por pessoa mais R$ 5,00 cobrados pelo estacionamento. O visitante tem a sua disposição um Centro de Informações com guias, banheiros, mapas etc. As trilhas no interior do parque estão bem demarcadas e limpas.


  O visitante tem basicamente duas opções de trilhas a percorrer no interior do parque, uma mais curta e próxima do Centro de Informações, a Trilha do Vértice, que dura pouco mais de 30min de caminhada, e a Trilha do Cotovelo, com 6 km de percurso de ida e volta e que leva à visão clássica do Itaimbezinho, aquela que ilustra quase todas as imagens, reportagens e cartões postais da região dos Aparados da Serra.


  Minha sugestão é reservar bastante tempo para conhecer sem pressa o cânion. Chegando ao parque próximo ao meio dia como fizemos, prepare-se para deixar o cânion em torno das 17:00 h, que aliás é o horário de fechamento do parque. Por isso, não deixe de levar água e um lanche leve para consumir durante as caminhadas.

  Optamos por encarar primeiro a trilha que leva ao Cotovelo. Após uma agradável caminhada em meio à mata, repentinamente a paisagem muda, a mata se transforma em campo e os penhascos surgem imponentes. Os mirantes indicam os pontos de melhor vista do cânion. Impressionante o Itaimbezinho. Paredes próximas, traz a exata dimensão de uma “fenda” aberta no chão, diferente do Fortaleza e outros cânions onde as paredes das duas bordas estão mais afastadas e a ideia de “fenda” não é tão evidente.


  Do Cotovelo se tem a vista da região de Praia Grande do lado catarinense. Lá no fundo, silenciosamente entre as pedras o Rio do Boi segue seu curso levando as águas que despencam pelas paredes dos cânions em direção às planícies da região litorânea.


  De volta ao Centro de Visitação, seguimos pela curta trilha do Vértice, que leva ao ponto onde “começa o Itaimbezinho”, ou seja o local onde as duas bordas se unem e inicia a fenda que se transforma no imenso cânion mais a frente. Seguindo adiante caminhando pela mesma trilha, percorremos um trecho da borda oposta do Itaimbezinho que nos leva à vista completa da Cascata das Andorinhas. Vale MUITO a pena, a imagem é fantástica.


  Após percorrermos as duas trilhas da parte alta do PN de Aparados da Serra retornamos à cidade, onde nos hospedamos na Pousada Por do Sol, simples mas limpa e aconchegante, com ótimo chuveiro e calefação a gás e um gostoso café da manhã...o que afinal é tudo que se precisa após um dia de longas caminhadas.

  O nosso jantar na primeira noite na cidade foi no restaurante O Casarão. A casa serve um excelente buffet de pratos típicos da cozinha italiana, com destaque para o maravilhoso tortéi, as costelinhas de porco e o suco de uva BRANCA (isso mesmo, suco de uvas brancas, uma agradável surpresa que tivemos e da qual fomos “obrigados” a levar umas garrafinhas para casa de lembrança. A dica: vale MUITO a pena).
O ambiente é de primeira, com uma decoração muito original e bem bolada, compondo um visual sofisticado e ao mesmo tempo rústico. Vale a pena conhecer, fica a dica de uma excelente opção de jantar em Cambará.

  O segundo dia amanheceu mais “cinzento”, com o céu parcialmente coberto de nuvens. Após o café da manhã reforçado na pousada, rumamos para o Parque Nacional da Serra Geral, para visitar o cânion da Fortaleza.


  São 23 km a partir do centro da cidade, por uma estrada surpreendente e de belíssimas paisagens. Na saída da cidade encontramos asfalto novo, muito bem sinalizado, com áreas cercadas para proteção dos animais, e...acredite, redutores de velocidade e quebra-molas junto aos pontos de travessia de animais.
Após uns 15 km o asfalto acaba e a velha e boa estrada de acesso ao Fortaleza ressurge, trazendo de volta o “gostinho de aventura”, as muitas pedras, os buracos, curvas, subidas, pontilhões de madeira etc. Diminui-se a velocidade, e curte-se muito mais a paisagem. Prefiro assim...

  Ao contrário do PN de Aparados da Serra, no Fortaleza não existe portaria. Não tem Centro de Informações com banheiros nem mirantes de madeira. Não se paga ingresso, não existem vias asfaltadas de acesso no interior do parque, muito menos cercas e telas isolando a borda do cânion.
Aqui tudo é muito mais natural, menos modificado pela mão do homem. Talvez por isso mesmo a sensação de liberdade e de distanciamento da civilização sejam maiores.  Se o Itaimbezinho impressiona, o Fortaleza simplesmente deixa o visitante atônito com sua grandiosidade. Esta foi minha quinta visita, e simplesmente é impossível não ficar boquiaberto com a obra que a natureza construiu ali. A cada nova visita o cânion se apresenta diferente, uma nova luz, a grama dos campos mais verde, ora mais amarelada....o cânion surpreende, se renova, nunca se mostra igual ao visitante.

  Já na chegada ao Fortaleza as surpresas agradáveis começaram. Fomos “recepcionados” por um desconfiado e arisco graxaim, que se aproximava até certo ponto, curioso com o movimento, talvez esperando algum “presente” para o lanche da manhã. A cada tentativa de aproximação o bicho se afastava um pouco, para novamente parar e nos encarar desconfiado, até que finalmente, sumiu campo afora.


  Contentes com a recepção na chegada do cânion, subimos a Trilha do Mirante, numa caminhada de uns 45min pela borda do cânion até a parte mais alta, de onde temos uma visão completa e impressionante do cânion. Impressionante também era o vento e o frio lá em cima.






  Já com a tarde acabando deixamos o Fortaleza e retornamos à pousada, curtindo sem pressa a beleza da paisagem dos campos que margeiam a estrada que liga Cambará ao Fortaleza.




  Na  segunda noite de nossa estada em Cambará o jantar foi na Pizza Retrô. O cardápio de pizzas é fantástico, muito criativo e as pizzas melhores ainda. 
  Os sabores são variados, ficamos com a pizza de salamito e tomates secos, que se mostrou uma excelente escolha. Fica a dica para quem resolver visitar a Pizza Retrô: uma pizza grande serve muito bem dois adultos, e se puder, não deixe de provar o sabor “pizza de salamito” !
  O ambiente da Pizza Retrô é extremamente criativo e original, com destaque para os LP de vinil espalhados pelas paredes e mesas, sem contar no som gostoso e suave da agulha do aparelho de som 3x1 tocando velhos LP dos anos 70 e 80. Não pude deixar de sorrir ao perceber que na “minha” mesa, havia um LP da banda Supertramp, “ao vivo”, um dos últimos LP lançados pela banda já ao fim da sua carreira na segunda metade nos anos 80...banda esta que foi (continua sendo) uma das minha preferidas daquele período. Impossível não sentir saudade do tempo em que se ouvia musica do “lado A” e “lado B”.

  Após uma noite fria, o terceiro dia na região amanheceu com céu limpo, azul, temperatura amena, perfeito. O planejamento do dia era visitar o cânion do Montenegro, situado no município de São José dos Ausentes.

  Após o tradicional café reforçado na pousada pegamos a estrada em direção a Ausentes. A partir de Cambará são 52 km de estrada de terra e muitas pedras até Ausentes. O pequeno trecho de aproximadamente 10 km entre Cambara e a vila de Osvaldo Kroeff está em fase de asfaltamento, e junto à vila está o pior trecho da estrada devido às obras de asfaltamento. No restante do trajeto, as muitas pedras e buracos ditam a velocidade da viagem, e o ritmo segue lento, sem pressa, em comunhão com a paisagem única da região. Aqui não é lugar para se ter pressa, definitivamente.



  No caminho entre Cambará e Ausentes, junto ao posto do ICMS na divisa entre RS e SC, fizemos um desvio de 7 km para visitar o mirante da Serra da Rocinha, na estrada que faz a ligação da região com o lado catarinense.
No mirante, muito vento, muito frio e um visual incrível, que compensa plenamente os 7 km de estrada de pedras.




  De volta à RS-020 deixamos a sede do município de Ausentes para trás e seguimos por mais 20 km até a vila de Silveira. Neste trecho a estrada é bem melhor e permite desenvolver mais velocidade. De Ausentes a Silveira levamos 30 minutos. Após Silveira seguimos em direção à bonita e bem estruturada Pousada Fazenda Montenegro onde fica o cânion de mesmo nome.

  Entrando pela sede da pousada o visitante segue por uns 3 km em uma estradinha bem agressiva e difícil para quem está com carro de passeio, mas que se transforma numa ótima diversão para quem está de 4x4, cruzando por várias porteiras, atravessando alguns córregos para finalmente chegar próximo à borda do cânion.

  Junto ao cânion Montenegro está localizado o Pico do Montenegro que é o ponto mais alto do estado do RS com 1403 m de altitude. Como toda a região já está a uma altitude expressiva, o “pico” na verdade não tem nada de muito impressionante, na prática é um “morrinho” mais elevado em relação aos campos que circundam a borda do cânion. Na verdade todas as terras no entorno do Montenegro estão a altitudes acima dos 1200 / 1300 m. Na foto, o "pico" do Montenegro é a porção mais elevada de terra lá no fundo.


  A grande atração do Montenegro é seu isolamento. Aqui nós temos a sensação de “um cânion particular”, sem outros visitantes. Engraçado perceber que cada cânion que visitamos nestes três dias traz suas particularidades, seu cenário próprio, diferente. Impossível tecer comparações entre eles........difícil e arriscado escolher qual o mais impressionante. Tem de conhecer e visitar todos !

  Se o Itaimbezinho traz a ideia perfeita de fenda aberta no solo com suas paredes próximas e cobertas de vegetação, o Fortaleza traz a grandiosidade de suas paredes de dimensões descomunais. O Montenegro por sua vez se mostra em sua borda composta de campos limpos que abruptamente terminam em penhascos, além da sensação de silencio e total comunhão com a natureza. Sem duvida, dentre os cânions abertos a visitação e facilmente visitáveis na região dos Aparados, o Montenegro é o menos conhecido, menos visitado e mais “puro”, onde a gente se sente mais longe da civilização.

Deixamos o carro junto à trilha de acesso à borda do Montenegro e encaramos a caminhada pelos campos. Sem pressa, percorremos toda a borda do cânion, atravessando os campos, alguns banhadinhos, explorando todos os visuais possíveis do cânion.







  Infelizmente faltou tempo para subir o “pico do Montenegro”....esta ficou para a próxima visita. Como depois de muita caminhada a tarde já começava a cair, era hora de encarar o longo caminho de volta a Cambará, aproveitando a luz mágica e saturada do final de tarde para as últimas fotos do dia.





  Após um rápido banho e um breve descanso, saímos para o jantar da nossa última noite na cidade, que não poderia ser em outro lugar que não o tradicional Galpão Costaneira. Uma farta e muito gostosa “bóia campeira” nos esperava, com direito a carreteiro de charque, feijão tropeiro, moranga, paçoca de pinhão, linguiça com queijo frito, saladas etc...sem contar as cachacinhas de entrada, preparadas nos mais variados sabores. Tudo isso num ambiente de galpão, muito bacana, e para completar com a música de fundo do simpático e lendário gaiteiro Agripino.

  Na manhã seguinte, domingo, chega nosso dia de partir, de deixar esta região tão bonita, impressionante e gostosa de se estar. Café tomado, mochilas arrumadas e no carro, tudo acertado na pousada, deixamos Cambará, não sem antes subir ao morro da torre da Embratel para uma “panorâmica” da cidade, e finalmente uma última caminhada na praça central, junto a igreja matriz, para então nos despedirmos de Cambará do Sul.


  No caminho de volta, uma escala em São Chico para uma caminhada e um chimarrão junto ao Lago São Bernardo, o almoço na tradicional Trattoria Pasta Nostra, uma demorada visita à livraria Miragem que sempre rende um livro de lembrança garimpado entre as prateleiras e depois....estrada até em casa.

12 comentários:

  1. Arlei, seus relatos são fantásticos. Nos colocam dentro da aventura! Parabéns!!!
    Diga-nos: um automóvel de passeio (1.0) consegue passar bem pela estrada entre São José dos Ausentes e Cambará? E mais: sabes como estão as condições das estradas que ligam São Joaquim/SC até Bom Jesus ou SJA?
    Abraço,
    Fabiano, Porto Alegre/RS

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    1. Fabiano,

      A estrada entre Cambara e Ausentes é uma via "normal" não pavimentada, qualquer carro de passeio pequeno passa numa boa, basta paciência para andar em velocidade compativel com o estado da estrada e atenção para desviar dos buracos maiores que nem são muitos. Pode ir tranquilo.
      O trecho mais critico na verdade é na chegada à vila de Oswaldo Kroeff antes da Celulose Cambara que está em obras e ali sim bem complicadinho, mas vc evitando passar à noite, é tranquilo, vai na boa !
      O trecho entre SJ.Ausentes e São Joaquim faz muito tempo que não faço completo, mas até a vila de Silveira partindo de Ausentes, é bastante tranquilo, estrada de terra mas inclusive em melhores condições do que o trecho entre SJ.Ausentes e Cambara.
      RESUMINDO: todas as estradas da região podem sim ser percorridas por qualquer carro pequeno, basta calma e cuidado com as pedras maiores para evitar danos aos pneus.

      Um abraço e Otima Viagem !
      Arlei

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  2. Relato incrível! Acha que uma Biz 125 aguentaria a estrada?

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    1. Aline,
      Uma BIZ aguenta a estrada sim, mas vc tem de ter em mente que é estrada de muita pedra, buracos e subidas, então vc vai ter que ir com bastante calma, e cuidando da tua moto para não danificar ela. Mas com paciencia e cuidado, uma BIZ vai a qualquer lugar :-)
      Abraços

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  3. Olá Arlei, sou paulista pé na estrada como vc.
    Estive em Cambará do Sul a 15 dias e adorei cada pedacinho do RS q conheci assim como o povo Gaúcho tbm.
    Me instalei bem na cidade de Cambará e fomos visitar o Canyon a 16 km da cidade. Seria o msm q vc postou?

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    1. Certamente Morgana, na verdade existem 2 canions próximos a Cambará, vc deve ter visitado o Itambezinho.
      Abraços

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  4. Fiz esses trajetos em viagens diferentes, a primeira fomos até Cambará conhecer o Cânions, era abril, estava frio, mas foi muito bom, também jantamos no Galpão Costaneira, comida nota dez... Na segunda já no mês de dezembro, seguimos sentido Bom Jesus, SJ dos Ausentes, Silveira, São Joaquim até chegar na Serra do Rio do Rastro, estrada não pavimentada em Silveira, mas boa pra andar e muito bonita também, valeu a pena os quase 100km de estrada de chão... Viajamos sempre de moto, as experiências foram ótimas :)

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  6. Bom dia ARLEI, conheço Cambará e os quenions, e agora estou programando outra viagem mas dessa vez vou a serra catarinense passando por Cambará do Sul, São José dos Ausentes, ( para conhecer o Pico Monte Negro e o Rio Pelotas na divisa) mas eu vou de moto uma twister 250 cc, tu acha que a estrada é apropriada para andar de moto ? E em caso de problemas o sinal de telefone funciona por la ? valeu pelas dica

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  7. Eleandro, a estrada a partir de Cambará até a serra catarinense passando por Ausentes é toda de chão e pedras, não é o piso ideal para motos esportivas, a Twister deve ir sim, mas vai com cuidado e sem pressa. Eventualmente pode haver alguns trechinhos com um pouco de barro, nada demais.
    Quanto a sinal de telefone, infelizmente (ou não....) a resposta é negativa, na maior parte do trajeto não tem sinal, apenas mais proximo às sedes das cidades de Cambará e Ausentes.
    Abraços e boa viagem !

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  8. Na tua opinião, onde é melhor se hospedar? Cambará ou Ausentes? Se ficar em Cambará, tem alguém que faça os passeios para Ausentes? Quantos dias é o ideal para ficar por lá?

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    1. Fábio, as duas cidades são muito bacanas mas com propostas algo diferentes. Cambará já possui uma estrutura de hospedagem mais desenvolvida, e opções para todos os gostos e bolsos. Em Ausentes as poucas opções de hospedagens são todas em fazendas, distantes da sede do municipio.

      Se a idéia é conhecer os canions, hospede-se em Cambara, com toda certeza. Não conheço de alguma agencia que organize passeios a Ausentes a partir de Cambara, normalmente os passeios tem destino aos canions de Itaimbezinho e Fortaleza. As atrações de Ausentes, incluindo o canion Montenegro, ficam distantes.

      Quanto a tempo de visita, em Cambará 2 dias, um para conhecer o Fortaleza, outro para Itaimbezinho. Se conseguir transporte, mais um dia para visitar o canion do Montenegro em Ausentes.
      Abraços e boa viagem !

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